30 de março de 2011


Tiro-vos o chapéu uma vez mais,
já não há nada a fazer,
não há volta a dar,
os palcos são a minha vida,
momentos que deixamos de ser quem somos
ou simplesmente
representamos aquilo que realmente somos
vibramos com o calor do público
e
indignamo-nos quando não demonstram reacção.

Continuarei a escrever em português do meu país
que nada sabe ser se não APENAS o meu país e
de outros tantos que por aqui moram.

Mas este é o meu país...

País de gente que não quer saber,
de gente que chora e que ri,
país do fado e da saudade,
da melancolia e da risada,
de gente triste e de gente vivaça,
mas este é o meu país e é nele que quero viver...
fazer o que de melhor sei fazer
e gritar porque tenho garra para acreditar...

obrigada por estes momentos amarelos 
entre cenários, cenografias e figurinos,
entre o chão branco e a nódoa amarela,
fica sempre a sede de beber mais...

8 de março de 2011

fecha a porta
abre antes uma janela
o passado ficou para trás 
rostos esquecidos pelo tempo
guardam os sorrisos de outrora
serão sempre coloridos
sem ressentimento ou ferida
anda, fecha a janela 
e
abre antes uma porta
viverei tudo de novo e ainda mais 
viverei o eterno sonho 
viverei cada noite chuvosa
cada abraço
cada gesto

viverei os eternos sussurros do meu amor
e adormecerei no seu último suspiro

depois, não me vou lembrar de nada

abro a porta e a janela 
e vejo-te chegar
com rosas azuis 
lírio vermelhos
a sorrir, sempre a sorrir
junto a mim, para mim...

2 de março de 2011

qualquer dia escrevo um livro para guardar na gaveta,
fujo de casa e compro um quintal,
compro um mapa para me perder,
levo sapatos altos vermelhos para caminhar descalça, 
fumo um cigarro e parto-o em dois limões,
tiro o chapéu e mostro-vos o meu peito,
cada qual tem o seu descanso,
mas eu cá repouso na esperança,
tiro as meias e calço os sapatos,
sonho contigo quando estás aqui.
E o Alentejo ainda guarda a nossa casa,
a moradia velha,
pintada de branco com contornos azuis, 
tem lareira e terraço de madeira,
sofá preto e móveis vermelhos.
Tira os sapatos,
calça antes os meus pés,
vou vestir os meus collants pretos e
caminhar na calçada do chão,
apanhar o eléctrico amarelo
e sair no castelo dos sonhos perdidos.
E depois chovia e o sol brilhava,
eu andava nua na praia 
e tu tinhas os sapatos calçados,
vestiste-me umas meias
e ataste-me os atacadores amarelos
e eu fugi para apanhar o eléctrico.